Doutor Refresco
O homem que concebeu todo o sistema, Saud Abdul Ghani, disse à BBC que pretende criar um legado para continuar no país ao fim da Copa.
Ele diz que anos de extensas pesquisas levaram a um conceito que ele chama de "conforto térmico", criando um ambiente agradável para o maior número de pessoas. Conversas com atletas e torcedores no Campeonato Mundial de Atletismo realizado em 2019 no Catar ajudaram a desenvolver um sistema mais adequado para a Copa do Mundo de futebol.
Pelos olhos de uma jogadora
A BBC conversou com Hajar Saleh, zagueira da seleção feminina do Catar e jogadora desde os 11 anos de idade. Ela conhece as exigências para disputar uma partida em alto nível sob condições extremas. Para Hajar, a umidade é o maior desafio.
Nós estamos acostumadas com o calor, mas quando você combina calor e umidade as coisas ficam difíceis Hajar Saleh
Hajar foi uma das primeiras a jogar em dois estádios com o novo sistema de ar condionado, o Khalifa e o da Cidade da Educação.
Ela diz que o sistema faz uma grande diferença, especialmente em junho, um dos meses mais quentes do ano no Catar (a Copa será disputada em novembro e dezembro).
O sistema é sustentável?
Os organizadores da Copa dizem que a energia utilizada no inovador sistema de ar condicionado dentro dos estádios não resultará em emissões extras de gases de efeito estufa. A justificativa é de que a eletrcidade virá de uma nova usina de energia solar.
Mas a meta de garantir que todo o torneio seja "carbono neutro" representa uma ambição muito maior.
A quantidade de carbono "incorporado" - ou seja, as emissões produzidas durante a construção dos estádios - é responsável por 90% da pegada de carbono, com aproximadamente 800 mil toneladas de gases de efeito estufa jogadas na atmosfera. Isso é equivalente a dar a volta na Terra 80 mil vezes com um carro, segundo a calculadora da Agência de Proteção Ambiental dos EUA.
Olhando para além dos estádios, há o impacto das viagens para a Copa do Mundo, incluindo os voos dos torcedores até o Catar.
A Fifa diz que a natureza "compacta" do torneio, de distâncias curtas entre os estádios, significa que a emissão de gases no deslocamento interno é estimada em menos de um terço do que foi produzido na Copa da Rússia em 2018.
As promessas do Catar de uma "Copa verde" dependem de compensação da pegada de carbono por todo o CO2 já emitido.
Não está claro até o momento como o Catar pretende atingir isso. A Fifa diz que está usando diferentes tecnologias para compensar as emissões da Copa, incluindo esquemas de eficiência energética, gestão de resíduos, energia renovável e, possivelmente, plantação de árvores. No entanto, a seleção final desses projetos ainda não pode ser confirmada.
Cada solução poderá levar décadas até se tornar eficiente em relação à pegada de carbono. Um investigação recente da BBC sugeriu que florestas usadas em programas de compensação de carbono só existiam no papel.
Assim, só o tempo dirá se o Catar de fato conseguiu atingir seu objetivo de uma "Copa verde" ou se o conceito de sustentabilidade não passava de propaganda.
O país também enfrenta críticas pelo alto custo humano na construção dos estádios em que foram empregados cerca de 30 mil imigrantes. Muitos deles morreram ou ficaram seriamente feridos. Há também acusações de trabalho forçado, condições de trabalho degradantes, salários não pagos e passaportes confiscados.
O governo do Catar contesta essas acusações e insiste que desde 2017 introduziu medidas para proteger imigrantes do trabalho sob calor excessivo, de limite do número de horas de trabalho e melhoria nos alojamentos dos operários. Entretanto, só em 2021, 50 trabalhadores morreram e mais de 500 ficaram seriamente feridos no Catar em projetos relacionados à Copa do Mundo, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT). É uma parte do torneio fora dos campos que será acompanhada de perto.